Ave

Ser tão delicado

Mas sem asas

Meu corpo é repouso para este cansaço

Será que sou pássaro

Ou só sombra no espaço

Sem rota de fuga nem itinerário

Conduz-me para bem longe

Ser tão esperado

Este voo infinito

Este mundo encantado

 

Vital

Há uma vida no poema

Há uma alma no poema

Então não se prenda 

A morte da palavra

Ressucita aqui dentro

Há um grito que se lança docemente

Há uma força que se põe a declamar

Não deixe a alma morrer

Nem a poesia chorar

Para Maio

É maio que me revigora para a vida, em maio tudo é tão pleno de poesia e de paz. Maio é místico, suave, afetivo – em maio me sinto vivo e com mais vontade ainda de sonhar. É maio, é tempo de coroar a rosa mais preciosa da Santa Igreja, admirar seu olhar cheio de graça e de amor. É maio e o cheiro de rosas inunda-me por todos os meus sentidos, não quero mais saber dos dissabores, nem do impossível. É tempo propício para o amor genuíno por isso que eu amo, maio eu te amo, te amo.

Contexto Musical

Como alguns cantores reagiriam quando acusados de serem depressivos:

Renato Russo – Não esconda a tristeza de mim.

Jorge Vercillo – Eu prisioneiro meu?

Marcelo Camelo – Eu não vou mudar não, eu vou ficar são.

Cazuza – Os meus sonhos foram todos vendidos.

 

A sensibilidade do poema

A sensibilidade do poema está no olho lacrimoso do poeta

Na palavra pura amplificada na emoção

Como não ser sensível a arte captada pelo homem em comunhão

Com a divina forma do sentir profundo?

 

A sensibilidade do poema está no limite de cada verso

Quando sentido de perto

É um bálsamo

Um refúgio

Um conforto

Para o sentimento de quem lê com o coração

Um discurso solitário

O poeta não é bem vindo nas sinagogas, na reunião de irmãos da Igreja santa e acolhedora e nem nas Igrejas divididas. O poeta sabe que sua sina é conectar-se com a solidão e ser chamado de narcisista, é triste o olhar de quem não sabe sonhar. O poeta não é bem vindo no templo que queima e arde e nem no que protesta e se perde, sabendo que o consome apenas a chama de sua poesia. Mesmo quando está perto está também distante e quando se aproxima sente o incômodo peso de sua missão. E quem irá lhe conceder o perdão?

Rascunho de uma sexta-feira

De que me vale a poesia se estou sempre em solidão? Quem poderá consolar a aflição de se perceber sem retorno algum para devaneios internos? De que adianta tentar interagir se quase em todos os momentos a resposta se transforma em frustração? De que adianta falar também aqui se não terei resposta nenhuma e provavelmente nenhuma leitura? E assim a noite segue, o final de semana se anuncia. E o poeta permanece pessimista, dramático, exagerado? Não sei, só sei da minha solidão!